Foto: Cartaxo
Promoção de festas fechadas para compensar a falta de trios nos circuitos remete ao início do Carnaval de rua do final do século 19, inclusive na divisão racial
Participar do Carnaval de Salvador é fundamental para qualquer artista que busca construir relevância na cidade. É justamente por isso que nomes da atual cena da música pop reivindicam um espaço na festa, mas não no formato estabelecido pelo mercado dos blocos e do Axé Music, com seus abadás e cordas. A opção é pelos trios independentes e palcos abertos, o que aponta para uma visão de Carnaval mais igualitária, em que o poder econômico pessoal não se transforme em privilégios na ocupação do espaço público na festa.
A posição tomada por artistas e bandas como Afrocidade, ÀTTØØXXÁ, BaianaSystem e Aya Bass (projeto formado pelas cantoras Larissa Luz, Luedji Luna e Xênia França) marca um distanciamento e, ao mesmo tempo, uma disputa dentro do Carnaval. É uma conta que tem se equalizado da seguinte forma: os grandes investimentos privados focam suas ações nos camarotes, enquanto a rua passa a ser ocupada por atrações viabilizadas pelo poder público.
Em 2022, a impossibilidade de colocar os trios nas ruas, por conta da pandemia, gerou um processo bastante peculiar: a corrida pelo Carnaval Indoor. Uma série de produtoras de eventos tentaram se antecipar e propor um formato de festa num ambiente possível para estabelecer protocolos. A discussão que gerou foi: e o Carnaval de quem não pode pagar? Nenhuma solução se apresentou e, no final das contas, apenas festas privadas para até 1,5 mil pessoas vão acontecer.